Situava-se numa das saídas da aldeia no caminho que, mais directamente, levava às Ladeiras erguendo-se, do lado esquerdo do caminho, sobre uma rocha coberta de saibro. Uma cruz grande, de pontas arredondadas, assentava num pedestal que, ninguém sabia quando, houvera sido arrancada de algum penedo das redondezas para ali permanecer como mensagem divina. O acesso era escorregadio, embora facilitado por alguns carvalhos rasteiros a cujos ramos nos agarrávamos quando participávamos nas novenas, a convite de alguém, no cumprimento de uma promessa. Como era indispensável a presença de nove pessoas tornava-se fácil reunir oito crianças para conseguir o objectivo. Para nós era divertido dar as nove voltas, a subir e a descer com a ideia fixa nos rebuçados ou figos secos que, no final, nos eram distribuídos. Outras vezes, quando por ali brincávamos, numa traquinice mais ousada, subíamos para a pedra de base e, para não cairmos, abraçávamos a cruz que, no decorrer de séculos, outro contacto humano não deve ter tido além destes e outros bracinhos frágeis.