O edifício escolar não obedecia a nenhum plano de construção. Funcionava numa sala vulgar com quatro janelas e uma porta que tinha na parte superior um suporte de madeira pronto para hastear a Bandeira Nacional que não nos lembramos de ter visto. No interior, várias carteiras de madeira maciça, uma secretária, uma cadeira, dois quadros pretos, os mapas de Portugal Continental, Portugal Insular e Ultramarino e uma caixa de madeira contendo os sólidos geométricos dos quais a esfera, por ser tão redondinha, captava a nossa atenção e todos facilmente identificavam.
Era um local frio, desprovido de qualquer conforto nos dias de Invernos duros. Como aquecimento havia uma braseira que se ia enchendo e renovando de brasas recolhidas nas fogueiras das casas vizinhas. As duas escalfetas (braseiro em forma de caixa), compradas na feira de Trancoso, eram invejadas pois apenas aqueciam os pés dos respectivos donos. O frio nas mãos suportava-se de bom grado porque tê-las quentes era sinal de erros ortográficos, esquecimento de alguma Serra entre o Sabor e o Douro, confusão com as linhas do caminho de ferro de Angola e Moçambique, as Campanhas do Gungunhana ou a falta de alguma das conjunções adversativas. Alguns alunos faltavam à escola pelo rigor exigido em relação à aquisição de conhecimentos ou porque, no caso dos rapazes, eram precisos para guardar os rebanhos. Mas, os que persistiam e tinham a sorte de ter pais empenhados, obtiveram ensinamentos para a vida inteira.
Escrever na ardósia, que às vezes se apagava com a manga do casaco, ou com a caneta de aparo a molhar no tinteiro, em papel de vinte e cinco linhas, nem sempre era tarefa fácil perante a responsabilidade que isso nos exigia. Mesmo assim, e com todos os condicionalismos impostos, gostávamos do convívio, das brincadeiras e tínhamos muita vontade de rir porque sabíamos que não era prudente fazê-lo…