Passado o Outeiro, a correnteza de casas terminava e surgia um caminho deserto que, entre as Tapadinhas e os Cabecinhos, levava ao Cemitério como preparação para o isolamento completo a que estes lugares são vocacionados. Um muro alto de granito delimitava o espaço onde todos os habitantes da aldeia sabiam ter lugar garantido. A porta, gradeada de ferro preto, sempre aberta ou encostada, dava acesso à última morada que, na generalidade, era a terra dura e fria, sem marcação prévia, por vezes até distanciada de familiares que ali já se encontravam. O espaço era pequeno e, à excepção de duas ou três campas cobertas com mármore e mais uma meia dúzia ladeadas com grades de ferro, todas as outras se evidenciavam devido à pequena elevação de terra, alisada e com algumas flores. A identificação não era fundamental, pois todos sabíamos onde todos estavam e era nos Finados que os familiares acorriam para cuidar o espaço e matar saudades. Então, as sepulturas ficavam revestidas de crisântemos pequeninos aos quais se retirava o pé para formar uma espécie de colcha em tons de vermelho escuro que faziam realçar o amarelo da cruz que, por cima, com as mesmas flores se desenhava.
O Cemitério, por se encontrar um pouco distanciado da povoação e, propositadamente nos ser evitado, não deixou vestígios assinaláveis nas nossas vivências que, despertas para a vida, esqueciam este lugar transferindo-o para o fim do mundo.