sexta-feira, 1 de maio de 2009

VILA BOA DO MONDEGO -Descrição Física da aldeia

Ao percorrer, aproximadamente, cinco quilómetros na antiga estrada nacional 116, no sentido Celorico da Beira Fornos de Algodres, depois da curva entre as Nogueiras, deparávamos com um aglomerado horizontal de casas que se estendia desde a Ponte ao Cemitério. VILA BOA DO MONDEGO à vista ! A cor predominante era o cinzento escuro do granito rude e natural, arrancado àqueles penedos imponentes que ali tão próximo se mantinham e havia sido utilizado para a grande maioria das construções das casas. Diziam que, no maior desses rochedos, o Penedo da Pomba, vivia uma moura encantada que não se deixava ver...

Podemos referir uma rua principal que, não tendo nome, começava no Eirô, passava pelo Largo de Santo António, Largo do Malvar, descia o íngreme Outeiro em direcção ao Forno e Largo das Linguarudas e terminava na Igreja. Desta artéria, que possibilitava percorrer toda a povoação, partiam as outras pequenas ruas, ruelas e becos que, como o do Canto, não tinham saída. Apenas uma dessas derivações era conhecida pelo nome de Geringota e era muito útil, para atalhar caminho, nas procissões, porque nem todos se atreviam a descer o Outeiro com sapatos de festa !

O pavimento das ruas, ligeiramente arqueado, era feito de gogos ( calhaus rolados ) terminando nas partes laterais em valetas que permitiam que as águas pluviais tivessem um leito próprio. Era frequente a existência de pedras compridas, de forma irregular que, colocadas nas ruas, junto às paredes, desempenhavam múltiplas funções : descanso, convívio, depósito de alfaias agrícolas e cestas com produtos hortícolas. Quem tivesse a sorte de ter uma destas pedras junto à sua casa era inevitável quedar-se nela antes de entrar, pois havia sempre um pretexto para o fazer.

Uma superfície considerável das ruas era ocupada por balcões (escadas ) talhados em granito, quase sem emendas, que possibilitava o acesso à parte habitacional das casas havendo um piso térreo que podia servir de arrecadação ou dormida dos rebanhos em alguns casos. O alojamento do porco, burro e cavalo encontrava-se muito próximo e a capoeira das galinhas reduzia-se a uns paus toscos que, assentes no chão e metidos nos buracos das paredes, com umas giestas negrais a servir de tecto, era o bastante para pernoitar.



Ruas da nossa aldeia ! Onde decorreu uma parte tão significativa da nossa infância ! Onde todos se conheciam e a vida ia acontecendo sem pressas...

Só nós, as crianças, é que corríamos à procura dos sítios mais adequados às brincadeiras que nós próprias inventávamos...