quinta-feira, 4 de junho de 2009

VILA BOA DO MONDEGO - O FORNO GRANDE -Anos 60

Era um forno grande e público que laborava com frequência de modo comunitário e servia toda a população. Alojava-se num espaço próprio, em paredes de pedras soltas onde duas enormes bancadas também de pedra, facilitavam a colocação dos tabuleiros onde os pãezinhos de centeio aguardavam a altura certa de entrar naquele buracão escaldante. Seria impraticável utilizá-lo individualmente quer pelo dispêndio de lenha, quer pelo excesso de trabalho, ou até mesmo para não desvirtuar o seu propósito. Normalmente, funcionava com quatro ou cinco pessoas que, observando um ramito de árvore metido num buraco da parede, junto à porta, indicava que alguém estava interessado em cozer e procurava parceria para fazer a fornada. Esta era a senha que rapidamente circulava e formava grupo. Em tempo de festas funcionava dia e noite numa produção mais gulosa para que os biscoitos não faltassem em nenhum lar. E a pequenada andava por ali, ávida para rapar a massa dos alguidares de barro à medida que se iam esvaziando.
Em ocasiões mais ou menos cíclicas, o forno servia de abrigo a ciganos e cesteiros onde, à falta de melhor, obtinham alguma temperatura real ou imaginária. Muitos deles já os conhecíamos e por ali andávamos, com timidez e curiosidade, observando formas diferentes de viver. Quando partiam, não sentíamos qualquer nostalgia por ficarmos porque esta aldeia, no nosso pensar de então, era o único lugar do mundo onde poderíamos viver e ser felizes.