Os acontecimentos de carácter religioso tinham, para as crianças, particular interesse que a repetição, ano após ano, não fazia desaparecer e nos levava a participar nos rituais litúrgicos com a devoção própria de quem ainda não tinha dez anos de idade.
A Quarta – Feira de Cinzas iniciava a entrada na Quaresma pelo que era dever de todos ir à missa e participar na imposição das cinzas como preparação para a vivência espiritual do Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. O sacerdote, realçando a efémera fragilidade da vida humana, dava ênfase a estas palavras que, de pequenos, nos habituamos a ouvir e, já então, quase compreendíamos: “lembra-te de que és pó e em pó te hás-de tornar”…para, em seguida, deitar na cabeça dos fiéis, alinhados na coxia, uma pitada de cinza, em forma de cruz, resultante da queima dos ramos de Domingo de Ramos do ano anterior.
A verdade é que sentíamos alguma nostalgia associada à Quaresma. Na Igreja, com os santos tapados com panos roxos e a ausência de flores nos altares, a ouvir falar de jejum e abstinência… era uma reflexão dura demais para quarenta dias, dada a fé da nossa tenra idade.
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