As condições económicas da época não permitiam grandes gastos, por isso, tudo se resumia a uma cerimónia simples que, no entanto, animava quase todos os moradores: uns porque eram familiares, outros convidados, muitos por curiosidade, os noivos porque deixavam de ser noivos e nós, a garotada, que dávamos fé de tudo.
A tradição impunha que, se a noiva fosse natural da aldeia, aqui se realizasse a boda. Caso o noivo viesse de fora, era – lhe aplicada a modalidade de “pagar o vinho”que consistia em pagar copos de tinto a todos os presentes que, numa determinada noite, se encontrassem na Taberna. Como havia duas, lá entrava o noivo forasteiro em despesas e, para não ficar mal visto, mandava encher os copos logo que se esvaziavam. Para estes, a festa começava com antecedência e, por vezes, já dava que falar no dia seguinte.
No Forno Grande coziam-se cestadas de biscoitos e outros bolos para os quais se haviam guardado os ovos e era uma sorte se as galinhas andavam a pôr! Até o Bolo da Noiva aqui era confeccionado! A massa era a mesma, só eram precisos três ou quatro formas, de tamanhos diferentes, para empilhar os bolos e barrá-los, depois, com açúcar para ficar todo branco, como convinha. Terminada esta tarefa, deitava-se de novo o lume ao forno que, além de já ter descaído, necessitava de maior temperatura para assar os tabuleiros de carne que, entretanto, haviam sido preparados. O arroz-doce era feito mesmo na véspera, para ficar brandinho, com leite fresco de ovelha que se tinha ou alguém dava. Como era hábito distribuir pequenas bacias de barro pelos vizinhos que não tinham sido convidados, a quantidade tinha que ser grande e tinha que ficar bom! O que valia era que havia sempre mulheres habilidosas que, nestas situações, se disponibilizavam e sabiam fazer tudo…A sala do banquete, normalmente, era o Salão anexo à escola ou outra sala grande que alguém cedia.
No dia aprazado, os noivos e convidados encontravam-se na igreja que, no dia anterior, tinha sido abundantemente enfeitada com flores que as pessoas colhiam nos quintais, junto às poças e, com gosto, ofereciam. O noivo, no seu fato novo, nem parecia o mesmo rapaz e a noiva, com o vestido branco e o véu de tule que, desde casa levantava com as mãos para não arrastar nas pedras da calçada, segurava o ramo de espargo salpicado de flores.
Enquanto a cerimónia se realizava, ( a esta parte nós nunca assistíamos), íamos preparando as “trincheiras”! Eram cadeiras em cujo assento estendíamos um paninho branco, bordado ou de renda, com um pratinho no meio, emoldurado de pétalas. Colocávamo-las em fila, no meio da rua, desde a porta do adro, para recebermos as moedas que os noivos e convidados ali quisessem deitar. Cada um de nós, encostado à sua “trincheira”, ia olhando, sorrindo e esperando que algo tilintasse…se, por ventura, calhava ser uma moeda de vinte e cinco tostões era o máximo que poderíamos almejar! Para nós, era a parte mais interessante dos casamentos. Não queríamos ser noivos nem convidados, apenas queríamos que alguém se casasse para termos, uma vez mais, a nossa “trincheira”.
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